Efeméride Popular
As noites de Santo António marcam uma alteração da rotina da Cidade que o viu nascer. Cada um vive o momento como sabe e pode. Eu vou os bailaricos e à sardinha assada como um espectador. Estou seguro que muitos sentem o mesmo. Não me identifico com este género de movimentação de massas, apenas acho graça fazer as minhas aparição e participação possíveis.
É um ror de gente pelas ruas que espera e desespera para comer uma sardinha mal assada, ou então queimada, que lhes vai custar uma quantia absurda. Mas é mesmo assim, diz-se. E acabo a jurar para nunca mais e que vale mais ficar-me pela rainha-patrocinadora-Superbock que ao menos é fresca e barata, se bem que no Largo de S. Miguel onde a Rosa com o seu acordeão apenas recolhia a solo os louros mas apenas quando cantava na Língua de Camões, cobraram €1,5 em vez do 1€ que até o “Funicular” cobrava ao transforma-se em barraquinha de Santo António. Embora em alguns recantos fosse difícil distinguir entre o arraial de Santo António e uma rave, assinale-se que mesmo assim, felizmente, a tónica voltou a ser o português entre o “Aperta, Aperta Com Ela” e “A Garagem da Vizinha” e não mais, por favor, espanholada e brasileirada como se assistiu há uns anos.
Os arraiais da Bica e do Campo das Cebolas são bons exemplares para quem aprecia fazer um estudo da fauna que pulula naqueles bairros. Impõe-se logo a questão: onde estão estas pessoas durante o resto no ano? Será que só damos por eles por se apresentarem em companhia do seu clã? Dissolvem-se no resto da população? Ir à Bica é uma experiência muito semelhante como ir a uma festa de uma remota aldeia em Agosto onde uma certa estirpe de “emigreses” abunda. Cai por terra, pelo menos aqui, a baixa taxa de natalidade. As raparigas de 16 anos têm um ar apagado e exausto o que lhes faz aparentar o dobro da idade, ou não tivessem já uma catrefada de filhos. Os rapazes-cônjuges vivem ainda a sua juventude como adolescentes que são – mas muito à frente em muitos aspectos que só mesmo eles se poderão gabar. Fazem-se acompanhar por outros que tal e ao contrário das suas mulheres há vida naqueles rostos! Uma… estranha forma de vida! As pupilas dilatadas e a ausência de dentes – pelo menos sãos, acompanham a indumentária: os fatos de treino “de marca” comprados na feira do relógio e na da ladra; os brincos à la Cristiano Ronaldo (que se lê Rónaldo), os penteados artísticos com o logótipo de uma marca desportiva rapada na nuca e ou padrões imaginativos; tatuagens e piercings em profusão. Os pais e avós, ao contrário dos casadoiros, não perdem horas e horas a produzirem-se para a festa, estão à porta de casa e as chanatas, assim com’assim, são muito mais confortáveis. Pelo menos, valha-lhes isso, são por vezes menos pretensiosos. Temos depois a figura daquela que deve ser a “boazona” do bairro. Encaixa num perfil de encalhada ou de a quem a coisa não tem corrido muito bem. As roupas são curtas e vistosas. Assim… tipo Ana Malhoa mas não tão pornográfico. Uma abundância de botas o altíssimas; mini calções – um cinto, vá; tigresses; rendas; decotes profundos com o soutien aparente e finalmente, uma volumosa permanente loura.
Mas por mais que se imagine esta conjuntura, só in loco se pode comprovar tudo isto. É onde as personagens ganham vida, estão seu auge, no seu espaço e anseiam todo ano por esta data.
Esta é uma face das Festas de Lisboa. Já dei para este peditório. Este ano já está… Agora é aproveitar o programa das festas - à noite - porque quando não estiver a trabalhar, espero estar na praia.
1 comentário:
muito bom!
temos de volta a análise habitual dos espécimens no seu habitat natural. clara e acutilante como se quer.
benvindo caro Freak n'Chic
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