ou as pessoas assemelham-se e organizam-se no espaço como peças de mobiliário. Há as de encostar, as de conter, de pousar, de repouso e até as de assento.
As que se encostam, umas às outras, como que numa manifestação de amor, outras que ao encostar vivem na sombra ou até parasitam para subsistir. As que vivem da beleza ou o do que é menos importante, que têm um lado que nunca ninguém vê.
As de conter asseguram-nos alguma estabilidade, sabemos serem sólidas, com qualidades com que podemos sempre contar. Que guardam e resguardam-nos, que nos ficam à cabeceira, no trabalho ou quando estamos apenas.
As que são para pousar é para isso que servem. Pousa-se, ficam ali. Podem ser só inconscientes da sua condição e servem uma só função.
Nas de repouso confiamos os nossos estados mais profundos, depositamos as nossas angústias e esperamos que amparem os nossos sonhos. Estão ali, independente do estado em que se encontram, vão ficando tão-somente para nos assegurar repouso, onde damos voltas remoendo a vida ou vamos ficando em paz como o universo.
Os assentos acompanham-nos nas mais diversas formas, permitem que nos conduzamos aos nossos destinos, que nos alimentemos, que possamos parar para conversar, contemplarmo-nos e escrever o que nos vai na alma. Podem inspirar-nos austeridade, conforto, pausa, desconforto, medo, vertigem e tudo aquilo que entendermos por querer.
Para além das categorias funcionais podemos ainda organizarmo-nos pela matéria; a frieza e elegância do metal, de pernas esguias, grande elasticidade e pragmatismo; a madeira com a sua sabedoria, aromas e temperaturas, assegura-nos um futuro promissor assente num passado de luxo e rigor; o plástico na sua multifacetada amplitude, traz luz, esperança e cor, diz-nos que a cor, o luxo, a riqueza e o conforto estarão onde nós quisermos estar.
Continuarão a existir sempre os outros. Os tecidos não nos abandonam, das plantas ou com cheiro a leite aquecem-nos, envolvem-nos, protegem-nos, embelezam-nos, nós peças, formas e conteúdos.
Há ainda as que nos emolduram, espelham, as que nos destacam, que nos evidenciam, que criam a nossa reserva em contexto.
As que são iluminárias, que em questões pontuais nos indicam o caminho ou que nos abrem a noite dos dias. As que nos suportam, que nos servem como pedestais ou peanhas.
Somos nós e os outros. Os seres e as coisas. O que queremos e o que somos. O que pretendemos e o que temos. São assim, as pessoas e as peças de mobiliário.
6 comentários:
Uma bela peça saiu-me este post, Corine. :)
Uma peça? de que familia?? Repouso?
vou aproveitar para partilhar consigo e com quem mas passe por aqui que fiquei deveras surpreendida quando ontem ao fim-de-dia fui ver o Gota d'água (que aproveito para aconselhar a ir ver) e este assunto é abordado no texto do musical. Os homens com cadeiras, cada cadeira define o homem, a mulher com uma poltrona para o homem.
nada acontece por acaso...parece...
uhu...medo, muuuuito medo
uhuu... conte, conte mais... já estou sentado na poltrona. ;)
Faremos assim; o mike pega na sua 'poltrona' e vai ver o Gota d'Água e depois continuamos esta conversa que digo-lhe...parece dar pano para muitas mangas...
não esperava. ;)
Sugestão aceite. Vou tentar cumprir. :)
Não tente Mike, vá!..vai ver que vai gostar e não se vai arrepender.
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