quinta-feira, 13 de novembro de 2008

'Se podes olhar vê. Se podes ver, repara.'

"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."José Saramago

Ensaio sobre a cegueira é um filme de uma extenuante intesidade. Creio que conhecendo a história se entenderá de outra forma o raciocinio arguto inerente à realização de Fernando Meirelles. As cores predominantes, a agitação permanente que se traduz tanto na imagem como no aparecimento de novas personagens, a ansiedade transmitida pela música, tudo são ferramentas para transmitir o peso da mensagem desta obra. O autor do livro, nestas palavras acima transcritas, diz que é necessário termos a coragem de admitirmos o que somos, nas minhas diria que deveriamos realmente fazer esse execício, o de nos questionarmos enquanto individuos e sobre a forma como uma sociedade, como a nossa, tende a desenvolver-se. Várias questões se põem ao longo do filme sob a metáfora da cegueira enquanto um mal social; a discriminação, a sobrevalorização do individualismo, a ansia de poder, a falta de humanidade no seu sentido mais lato, manifestada em cada uma das personagens tipo, e nas suas mais variadas formas.

'A jornada da família lança luz tanto sobre a perigosa fragilidade da sociedade como também no exasperador espírito de humanidade.'

Normalmente sentimo-nos incomodados quando nos confrontam com algumas questões que ultrapassam credos e regimes. Talvez pudesse ser uma forma de reequacionarmos principios que nos regem, objectivos que pretendemos atingir e principalmente o papel que temos no global onde nos inserimos. Deve ver-se o filme e sem sombra de dúvida ler-se este livro. Eu vou reler e talvez rever o filme depois disso...

(não é nenhuma mensagem do Dalai Lama, este homem não é o Ghandi!!! (lol) Saramago foi apenas capaz de equacionar de forma global o que muitas vezes nos assalta individualmente e principalmente de o transmitir de uma forma universal e extraordinária. Esta mensagem faz tanto sentido aqui como na China.)

2 comentários:

Freak n'Chic disse...

O filme é muito bom. Não é daqueles para estupidificar, decerto.

Belo post Corine.

Obrigado

Corine disse...

não tem que agradecer cara FNC ('este homem não é o ganhdi' foi em sua homenagem), é sempre um prazer falar destas coisas. Dificil é conter-me nas dissertações...