Mourão - município do distrito de Évora, situado na margem sul do Rio Guadiana, a sensivelmente 8km da fronteira espanhola, com Vila Nueva del Fresno. Infelizmente a informação sobre este município, como poderão constatar numa breve pesquisa na internet, não é facultada sequer pelo orgão estatal, a Câmara Municipal, que deveria ter por interesse (já para não falar em obrigações) divulgar a terra, as suas atracções naturais, o interesse cultural e até criar condições para aliciar investimento criando postos de emprego, revitalizando terras e gentes. O interesse é bem à imagem do site, mortiço, frouxo, sem qualquer vivacidade. Nem agora nem antes, enquanto se poderiam ter conseguido alguns investimentos da EDIA como contrapartida dos terrenos e fábrica da Portucel perdidos com o Alqueva. Nada se fez e pouco se faz, a apatia é geral. Vive-se na alegre modorra, um dia atrás do outro, contemplando o extenso lençol que só a Mourão nada trouxe, para além de água... (Longe vãos os tempos em que Mourão tinha para as suas crianças vários artístas plásticos a trabalhar no jardim em actividades lúdicas e pedagógias. Os mesmos tempos em que se faziam passar naquele jardim as bibliotecas itinerantes da Gulbenkian e pelo Cine-Teatro os actores do D. Maria. A memória do português é curta, é um facto incontornável, por isso nos deixamos governar nesta alternancia entre os mesmos.) É fácil distanciar-me do propósito deste post que era apenas o das saudades que tenho da minha casa, de quando naquela rua se respeitavam as caracteristicas das casas da primeira rua construída fora das muralhas, daquelas cores que teimam em lembrar-nos o nosso papel entre a grandeza do céu e a terra, daquelas chaminés, imponentes defumadores de azinho e carne de enchidos. Os passeios eram limpos e as paredes sempre caíadas. Estavam vivos aqueles que da sua terra e das suas gentes tinham brio. As crianças brincavam na rua sob o olhar atento de quem se sentava a apanhar o fresco nas noites de verão, ofereciam-se os borrachos do Entrudo e os folhados da Páscoa. No Natal cantava-se modas ao Menino e reuniam-se as pessoas à volta do madeiro que durava até ao Ano Novo. Brilhava o olhar, entre os sulcos da pela curtida pelo sol, de poderem trabalhar as suas próprias terras, enchiam-se as ruas com o eco dos grupos corais, festejavam-se e cumpriam-se as tradições mas recebiam-se de braços abertos (sempre com a tipica reserva de um povo castigado) aquilo que vinha. Vou sempre com o coração cheio de saudade daquilo que sei que não existe, sem nunca me habituar a essa ausência. Não sou saudosista na minha forma de estar, não gostava de parar o tempo, gostava só que fossemos capazes de ter opiniões, de conseguir pensar, de sermos capazes de lutar pelo que tem valor, de não esquecermos quem devemos, e principalmente não nos vendermos a troco de nada.
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6 comentários:
A mi m'encanta. Mas é de facto uma pena que coisas tão boas simplesmente sejam destuidas, desapareçam, deixem de ser hábito e costume.
Qualquer dia abre um Mc Donalds no sitio da Adega Velha
no sitio da adega velha não digo, mas como abriu um 'atamancado' minimercado há já alguns 10 ou 15 anos no lugar do fantástico café central, é nrmal que isso aconteça. não sou contra coisa nenhuma a não ser a estupidez.
essa é o maior inimigo seja do que for, bem mais do que a tão mal afamada ignorância que tudo paga.
Com que então "chaparra"... pelo menos de coração. Olhe, deixe lá Mourão esquecida, se a quer manter assim. :-)
Nós confundimos modernidade (não gosto desta palavra) e actualidade (já gosto mais) com um monte de coisas que não interessam a ninguém.
Não Mike. Acho que posso falar pela Corine e aqui não se está a falar de modernidade. Esta-se a falar coisas básicas por um lado, e coisas que foram conquistadas e logo se perderam, por outro. As cidades pequenas não são locais para irmos passar os fins-de-semana.
As pessoas que lá moram têm direito a muito mais. Não é a "modernidade" que se manifesta na destruição da paisagem urbana ao colocar portas em alumínio e tijoleira onde deveria ter a barra azul. Além de descaracterizar o que se faz de novo é normalmente mau, muito mau. Sem instrução, acesso ao conhecimento, à cultura não vamos para melhor. Sem teatro sem a biblioteca itinerante, por exemplo.
Se formos inteligentes podemos evoluir sem deixar de ser nós próprios. Senão temos a desertificação do interior e o sufocar dos grandes centros. Continuarmos a ter.
E não vamos para melhor.
E falou muito bem pela Corine. Subscrevo inteiramente. Eu que fui traído momentaneamente, e sem perdão, pela minha visão cosmopolita da situação.
pode ser modernidade, pode ser actualidade..pode ser quase tudo aquilo que queiramos...não deve e não pode ser o que é!
as crianças não podem brincar na rua com o mesmo descanso, lógico, a realidade dos nossos dias é outra. estamos sempre sujeitos a diferentes condicionantes.
a grande questão aqui é trocar-se por nada aquilo que se tem de bom, deixar perder o que se tem por mera apatia. Essa é a dor e a mágoa que fica para quem se envolve, para quem sempre viu dar e fazer para que isto não acontecesse, pelo menos não na sua terra e com as suas gentes.
obrigada FNC.
era apenas um desabafo Mike, com uma óptima banda sonora :)
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