Duas raparigas falavam entusiásticamente de uma suposta carta de amor....um assunto tão incomum nos nossos dias que não consegui evitar e fiquei a ouvir, tentar conhecer todos os contornos daquele assunto que as deixava tão agitadas.
Talvez até porque inicialmente tenha sido também essa a minha reacção, aquela risada de escárnio reteve a minha atenção e fez-me entrar a galope nas minhas ideias. Porque ria eu, de onde vinha aquele conceito de ridículo associado a um acto que transpira apenas sinceridade e entrega. É de tamanha lisura que nos deixa desarmados. O que de tão forte pode levar tanta gente a escrever, pintar, construir, voar, viver e morrer por ele senão o amor...
É a nossa impotência perante tanta franqueza que nos desnuda e expõe as nossas limitações sentimentais?
Não somos já capazes de nos entregar, não nos entregamos a nada!
Não é o amor o único a padecer deste mal, a amizade, a tolerância, a fraternidade...temos que ser duros, resistentes e de acção acossada, o resto fica para os fracos!!!
Não sei se volto a cruzar-me com essas duas raparigas, pode até ser que por obra do acaso venham parar a este blog, leiam este post.
CARTAS DE AMOR (Fernando Pessoa)
Todas as cartas de amor são ridículas./ Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas./ Também escrevi, no meu tempo,cartas de amor como as outras,ridículas./ As cartas de amor, se há amor,têm de ser ridículas./ Quem me dera o tempo,em que eu escrevia sem dar por isso, cartas de amor ,ridículas./ Afinal, só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor
É que são ridículas...
Caixa para guardar cartas de amor, de origem alemã-século XIX. Fotografia do Museu de Arte e História, Bélgica-Bruxelas.
7 comentários:
Em vez de as cartas de amor agora é mais numa de: Vamos curtir?
seja por carta, sms, mails, mms, toque, dança, conversa, olhar....pouco importa. a questão é que somos moldados para não sentir, para não nos deixarmos apegar...
engraçado que esta palavra apegar deve ser a mais feliz para transmitir esta ideia. tanto quer dizer afeiçoar como afundar.
de tanto disso termos medo quase nos impedimos de sentir.
És verdad... e depois queixamo-nos que os outros não se dão, não têm a mesma entrega, quando o nosso comportamento não é, no fundo, muito diferente.
Na minha mais elementar opinião, sentir verdadeiramente, na sua plenitude, só na entrega, e quando existe essa entrega é o tudo por tudo, o bom e o mau, para o bem e para o mal.
A minha incapacidade para pôr por palavras o que sinto quanto à entrega, à confiança, ao profundo altruísmo que acompanha, se é que é possivel, não me permite aprofundar aqui em discussão este tema, mas sinto-o, muito.
Como Corine disse, primeiro fazemos uma certa troça, todos nós, e acredito que até quem escreve a tal carta, porque sabe o quão ridicula é como diz FP.
Se nos questionarmos quantas cartas de amor recebemos na vida e quantas escrevemos, a resposta é tão curta...chega a ser violenta...
E mergulhamos na sinceridade e na entrega.
Será que somos sinceros?
Será que nos entregamos?
Será que se entregam a nós?
(...)
'assim devera eu ser
assim devera eu ser
assim devera eu ser
não fora não querer(!?)'
(...)
Que lindo Corine! E mais um momento musical!
Adriana e Fernando, e depois ficamos espantados com estas parcerias...nós fazemo-las a todo o momento!
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