quarta-feira, 9 de julho de 2008

O Beco do Imaginário

É um facto que nós portugueses dedicamos menos atenção aos nossos autores, a não ser que nos digam para fazermos o contrário com algum. De repente tudo muda, tudo o que faz é bom, não há obra que se lhe compare! Este comportamento vai lentamente eliminando ainda mais hipóteses de conseguirmos atribuir reconhecimento a outros. Penso que, de uma forma geral, cometemos este erro porque na verdade nos preocupamos pouco com a qualidade, preocupamo-nos pouco em regar a nossa capacidade individual de escolha, a nossa capacidade de análise e interpretação do que nos é oferecido, nunca com isto dizendo que para alcançar popularidade basta não ter qualidade ou ter apenas um sorriso suficientemente direito e mediatico para vender.
(guardo algumas referências no meu imaginário, até memórias de infancia, associadas a muitas pessoas que hoje me fazem sentir maior só pelo previlégio que foi conhece-las. Fazem-me sorrir com prazer e alguma comoção.)
Tenho alguma tendencia em deambular nas ruas, sempre a olhar para cima e à minha volta, à procura de alguma coisa que nunca tinha visto (como aquela árvore que cresce numa varanda estreitinha da rua da rosa). Hoje descobri um beco, aliás descobri o nome de um beco. Rápidamente a minha cabeça foi assaltada por várias ideias, memórias e pessoas. É um mundo fantástico o da nossa cabecinha... Voltando ao Beco, existe um livro maravilhoso, de um autor extraordinário, de seu nome Mário de Carvalho, chamado 'Casos do Beco Das Sardinheiras' (um livro pequeno, simples que o autor escreveu apenas em três meses). Assim que vi aquela placa de azulejos a dizer Beco do Imaginário lembrei-me logo daquelas personagens insólitas; o homem que vive no marco do correio, o que engoliu a lua ou até mesmo o Zé Metade, que ganhou o nome quando ficou cortado ao meio, por tentar separar dois vizinhos numa luta.
"Uma dúzia de contos para os descrentes da verosimilhança. Algo frágeis, de quando em quando, devido a tanta inverosimilhança; por vezes deixando perceber que foram escritos à pressa; mas bem conseguidas pelo retrato caricatural que fazem da boa gente portuguesa, e garantia de umas boas gargalhadas." João de Mancelos
(clicar na imagem)

LISBOA. É uma cidade fantástica, não me canso de a olhar. Uma cidade que transpira como nós, que muda, que tem humores, dias, que exalta e serena o rio. Uma cidade musa e criadora. Um coração que tanto nos afasta, mostrando frieza e crueldade, como nos agarra tirando o fôlego. No fundo quase como a vida. Eu podia viver no Beco do Imaginário, não este, o do mapa, no meu Beco do Imaginário. Num que fica na diagonal entre a 'Espuma dos Dias' e o 'Beco das Sardinheiras'. ADORO-TE.

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